Inteligência Coletiva

© 2001 Rick London / Johann Wessels 

Muitas vezes não é suficiente saber uma coisa. Temos que saber que mais alguém sabe! Ou que outras pessoas sabem que nós sabemos que eles sabem! Esse é o princípio de um conceito muito interessante chamado “inteligência coletiva”. Depois que um fato se torna de conhecimento geral, é possível fazer deduções sobre o raciocínio de outras pessoas.

Vou explicar melhor através de um exemplo:

José Machado é um escoteiro muito brincalhão. Num belo final de semana, quando seu grupo dormia no acampamento após um longo dia de caminhadas e observações, ele pegou uma lata de tinta e pintou um círculo vermelho na testa  de seus dois amigos: Stephan e Richio. De manhã, pela manhã, os dois acordaram e, evidentemente, ambos viram o círculo vermelho pintado na testa do outro. Sendo os dois muito tímidos e diplomatas, nenhum falou para o outro sobre o ocorrido. Mas, cada um pensou se não estaria com um círculo vermelho na testa também (eles eram tímidos demais para perguntar isso um ao outro).

Machado, que não era nenhum pouco introvertido, entrou na cabana e começou a dar gargalhadas. Questionado do motivo da risada, e com medo das conseqüências da sua brincadeira, limitou-se a dizer:

– Pelo menos um de vocês está com um círculo vermelho na testa.

É claro que, tanto Stephan, quanto Richio sabiam disso. De repente, Stephan pensou: “eu sei que Richio está com um círculo vermelho na testa, mas ele não sabe. Será que eu estou com um círculo vermelho também?” “Bem, supondo que não, posso deduzir – pelo que o Machado disse – que ele está. Mas Richio não demonstrou nenhum pouco de constrangimento. Então, isso significa que eu devo estar com um círculo vermelho na testa também!” Richio, por outro lado, raciocinou exatamente da mesma forma, chegando a mesma conclusão.

Perceberam? Sem o comentário de Machado, nenhum dos dois poderia chegar a esta conclusão. E, no entanto, Machado não lhes dissera absolutamente nada que já não soubessem.

No momento em que acordaram, o que os dois escoteiros realmente sabiam? Stephan sabia que Richio tinha um círculo vermelho na testa e Richio sabia que Stephan tinha um círculo vermelho na sua testa também. Percebam que estes fatos não significam a mesma coisa.

Quando Stephan ouve a afirmação do Machado e conclui que isso ele já sabia, o “um de vocês”, para ele, é o Richio. Por outro lado, quando Richio ouve a afirmação de Machado e conclui que isso ele já sabia, o “um de vocês”, para ele, é Stephan.

O que o comentário de Machado faz não é apenas informar a Stephan que alguém está com um círculo vermelho. Ele também lhe informa que agora Richio sabe que alguém está com um círculo vermelho, e se trata do mesmo alguém. Assim, a afirmação não diz a Stephan nada de novo sobre o que o próprio Stephan sabe, mas diz a Stephan algo de novo sobre o que Richio sabe.

O que importa não é o conteúdo da afirmação, mas o fato de todos saberem que todos os outros sabem daquilo. Assim que esse fato se torna de conhecimento comum, torna-se possível raciocinar sobre as reações das demais pessoas a ele.

A aplicabilidade prática dessa teoria tem implicações gigantescas. Exercitar este tipo de raciocínio permite deduzir conhecimento a partir de informações que são comuns a todos. Concluir afirmações a partir de poucas, e aparentemente insuficientes premissas, pode representar a perda ou ganho de um fator de competitividade da sua empresa  perante seus concorrentes.

Pensem um pouco sobre isso…

2 comments

  1. Interessante este tipo de raciocinio apresentado desta forma, como Inteligencia Coletiva… facilita bastante com o exemplo para o entendimento da importancia de compartilhar os conhecimentos.

    O emo Andre levou bastante tempo pra me abrir os olhos para isso…. ^^

    abracos!

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    1. Diogo, este é um dos assuntos que me fascina desde criança. O fato de se concluir uma hipótese partindo de informações aparentemente incompletas ou insuficientes. Fico feliz que você tenha gostado. Obrigado pela visita e comentários.

      []’s
      Reston

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